#PrimeirasImpressões Chucky: "Continuo psicopata sim, engraçado também, mas agora defendo gays oprimidos! Olha a faca!" (editado após o 2º episódio)

 


Estava eu passando um tempo no Twitter, após ver um filme muito charmosinho no YouTube, chamado "Um domingo de chuva" (crítica aqui), quando vejo a palavra "homofóbicos" nas mais citadas. Vou ver do que se trata, torcendo para não me deparar com mais um assassinato covarde, e eis que vejo uma aclamação inesperada de uma série que, se eu soube estar sendo produzida, me fugiu completamente à memória. 

"Chucky", diziam os tweets, agora estava matando homofóbicos e, somente por isso, a série já merecia atenção e é digna de ser festejada. A série "lacra", então já é boa (todos sabemos que não é bem assim que as coisas são, mas, é o Twitter, vamos relevar).

Completamente chocada com a informação (que veio de brinde com a notícia de que o boneco é agora pai de um também boneco — lógico, humano que não seria — de gênero fluido, Glen/Glena), fui em busca de a assistir. Porém, a série só estreia por aqui em 27 de outubro, pela Star+. Então, eu:

A) Acionei meus contatos do canal SyFy, responsável pela produção e pedi para me enviarem o primeiro episódio, ao que fui prontamente atendida 

ou

B) Fui no Vizer ver se tinha lá, e assisti. 

Uma das duas hipóteses ocorreu. 

O fato é que assisti esse primeiro episódio e, constatei algumas coisas:

- "Chucky" não quer e nem pode se levar a sério demais. Nunca foi uma franquia feita pra pensar. Não será agora que isso vai mudar.  

- Quase dá pra ouvir a direção dizendo: "Não é porque não se leva a sério que vamos descambar para o ridículo total. Vamos ter algum bom senso."

Sinopse:

Jake Wheeler (Zachary Arthur) tem quatorze anos, uma mãe falecida e um pai alcoólatra, violento e homofóbico. Ele é gay e nada descolado, o que o torna alvo de bullying na escola, em casa e praticamente qualquer lugar em que vai na cidade de Hackensack, o típico subúrbio americano que aparenta normalidade e perfeitas famílias estruturadas, mas que, na verdade, está repleto de hipocrisia e segredos obscuros. Após Jake comprar o boneco numa venda de garagem, assassinatos começam a acontecer à sua volta, transformando sua vida num caos e apavorando a comunidade. 

Como se pode notar, a sinopse é a mesma de quase todo filme do boneco assassino. A diferença é uma só, e crucial: Chucky agora (a princípio, pelo menos) não quer se transportar para o corpo da pessoa que atormenta, quer protegê-la. Ou ao menos é o que ele quer nos convencer que está fazendo. Como todo psicopata, pode estar somente manipulando Jake (e a audiência) para que ele encubra seus assassinatos.

A comédia non-sense está presente também como em todo filme da franquia. Porém, com tons mais críticos. Chucky não quer somente causar pânico onde passa. Agora, ele quer causar reflexão, mesmo que seja fugaz e até ingênua.  

Série criada e escrita por Don Mancini, mesmo criador e roteirista do filme original de 1988 e outros da franquia.



Uma coisa que me chamou a atenção logo de cara foi que, ao menos bem filmada, com uma direção e cenografia decentes, essa série foi feita. Há até um cuidado na iluminação e fotografia para não deixar exagerar mas também não ficar com ar de bobo ou infantilizado.

O trabalho de composição dos personagens me impressionou positivamente, por enquanto. 
O pai de Jake, interpretado por Devon Sawa, (atuando também como o irmão gêmeo bem-sucedido), por exemplo, é sim um troglodita, mas percebe-se que ele está, ao mesmo tempo. preocupado com o futuro do filho e, provavelmente, a homofobia é mais uma confusão e luto mal direcionado do que real ódio à homossexualidade. Profundamente infeliz e perdido, sem saber como pedir ajuda, acaba, por consequência, tornando infeliz o filho. 




A atriz que interpreta a professora de Ciências de Jake também foi uma grata surpresa. Quero ver Annie Briggs mais vezes. Não a conhecia, mas no pouco tempo de tela que teve, mostrou carisma e talento para uma personagem que poderia ser quase uma figurante com algumas falas. 

Alyvia Alyn Lind, que dá vida à "menina malvada" Lexy Taylor, já não me atraiu muito com seu desempenho. A personagem parece somente aquele estereótipo batido da rainha da escola que é popular e má pessoa porque sim. Mas, lembremos, foi só o primeiro episódio da série que terá dez. Entretanto, no mesmo primeiro episódio, Teo Briones, que faz Junior Wheeler, o primo arrogante de Jake, deu conotações um pouco mais complexas a ele. Percebe-se que ele não se sente à vontade com os pais e a pressão para entrar em Harvard (sim, o menino tem quatorze anos e já é atazanado com responsabilidade de entrar na dita melhor universidade do país) é notável, o que acaba fazendo despejar sua frustração no primo. Pode ser que o problema esteja no roteiro, e o maior indício disso é a forma caricata e forçada de bullying que a personagem faz. Lexy é não só estereotipada, suas ações são quase patéticas e as risadas dos colegas não soam nada críveis. Se isso for pra criar mais empatia ainda pelo protagonista, no meu caso só me deu foi irritação com o roteirista. 
Ainda assim, todos os outros atores, por mais unilaterais que fossem seus personagens, entregaram uma atuação mais satisfatória do que Alyvia. 



Com essa exceção da atriz adolescente, todo o episódio de estreia me agradou muito e espero que continue indo bem até sua conclusão. Ainda teremos participações de Jennifer Tilly e Alex Vincent reprisando seus papéis (Tiffany Valentine e Andy Barclay, respectivamente) e não posso esquecer de Brad Dourif, que deu voz ao boneco no filme de 1988, e retornou brilhantemente ao papel.  

Não posso dar nota ainda, afinal, são as primeiras impressões do primeiro episódio. No entanto, se continuar com esse bom ritmo, as boas atuações (na maioria), o humor, e o roteiro melhorar um pouco só, com certeza, darei uma nota um pouco acima da média. Chucky não é magnífica, mas a intenção dela, a meu ver, nunca foi essa. Não era no cinema, não será na TV. Se o que tenciona, como parece, é fazer uma diversão com matanças e que além de divertir pelo bizarro, também dá um pequeno, até amigável puxãozinho de orelha naquele fã mais velho que ainda acha bonito ter pensamentos arcaicos, inclusive homofóbicos. Sim, a série é feita e voltada para adolescentes, e visa apresentar o Boneco Assassino para um novo público, porém, certamente, sabe que tem muito trintão e quarentão que também assistirá por pura nostalgia, e é nesse alvo que Chucky concentra suas críticas. E, como diz o meme.: errado não tá!

Em tempo: estou vendo uma interpretação inapropriada, por parte do público que está me incomodando. 
Chucky sempre teve pelo menos algum personagem gay nos filmes, o próprio Don Mancini, criador da franquia, é gay. O problema é que agora, Chucky está sendo aclamado como herói. Sendo que, no segundo episódio, que foi ao ar nessa terça, dia 19, ele intimida e bate no Jake, e ainda assim, há quem diga que tá certo, é "pro bem dele" (?) e que Chucky só quer proteger o garoto. Só que tem um detalhe: O Boneco Assassino é um psicopata, está usando o menino. Somente isso. Ele pode ter, no máximo, apegos, como pela Tiffany e o Glen/Glena, mas não pense que ele não vai ser capaz de mandar o protagonista para a prisão por seus crimes ou até matá-lo, caso ele atrapalhe sua sede de matança. Psicopatas não cuidam de ninguém, não amam ninguém, não importa que bandeira eles tremulem.  

 

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