Shang Chi e A Lenda dos Dez Anéis: Quando um filme tem alma, tem tudo.

 


Diretor: Destin Daniel Cretton 

Escritores (roteiro): Dave Callaham, Destin Daniel Cretton, Andrew Lanham 

Atores: Simu Liu, Awkwafina, Tony Chiu-Wai Leung 


Bem, bem, bem, finalmente assisti Shang-Chi e A Lenda dos Dez Anéis e talvez (disse talvez porque só sei com certeza depois de assistir a um filme quatro, cinco vezes e depois de algum / longo tempo) pode se tornar meu filme favorito da Marvel, ou pelo menos ir para os três primeiros, e eu vou te dizer o porquê aqui:


Respeito à cultura chinesa

Todos nós sabemos que Hollywood foi (e sempre foi) racista muitas vezes com todos os tipos de etnias. Já faz um tempo que eles tentam consertar, mas na maioria das vezes o resultado é vergonhoso, não dando aos fãs o que eles querem e nem mostrando verdadeiro respeito às pessoas que eles dizem constantemente respeitar (cof, cof Mulan, cof, cof ), e isso acontece porque geralmente essas desculpas são falsas ou parecem ser. Mas agora, a Marvel encontrou o tom certo para, pelo menos, fazer nós e os habitantes asiáticos sentirmos sincero respeito e apreço pela cultura chinesa.

A consideração já começou na concepção de trazer artistas asiáticos não só para atuar, mas também para a equipe técnica.

E em adaptar e atualizar, de maneira moderna e inteligente, a HQ Mestre do Kung Fu (nunca li, nem sabia da existência, me desculpem os nerds mais antigos e enraizados) que data da década de 70, época em que artes marciais e heróis asiáticos estavam em voga (se você tem alguém na família que viveu nesse tempo, com certeza eles são fãs de Bruce Lee).




Ritmo e enredo impecáveis

O filme tem algumas falhas, não é uma obra-prima. Mas há uma coisa que ninguém pode o acusar. Ninguém pode dizer que esta obra não tem coração e alma. Tem uma alma profunda e sensível. Manteve-me cativa após os primeiros 15 minutos e não perdi minha atenção até o final. Isso diz muito, porque exijo um entretenimento muito bom para não ter vontade de checar meu twitter ou fazer outras coisas no celular (ansiedade eu culpo você). Pode parecer fácil fazer uma película com bom ritmo, principalmente neste tipo de filme: a origem do herói.

Mas, não, não é assim. Para fazer com que você se preocupe não só com o personagem principal, mas com quase qualquer um que apareça na tela, e fazer isso de uma forma que o enredo cresça constantemente, mas sem parecer megalomaníaco ou se perca durante o trajeto, sem soar pretensioso, ou simplista, é uma tarefa delicada. A jornada de autoconhecimento do herói tem quer ser genuína, temos que sentir empatia pelo o que ele passou e está enfrentando, torcer com ele, sofrer com ele, mesmo que não façamos a menor ideia do que seja aquela experiência. E, como mostrou bem Homem-Aranha na era Tom Holland, a Marvel poderia ter errado feio mesmo se já tivéssemos passado por algo parecido com o que o personagem passa  (Lamento se você é fã do Homem-Aranha de Tom, mas eu conheço muitas pessoas que entendem - e se relacionam - com Peter e a maneira como ele idolatrava Stark, mas não encontram uma maneira de realmente se conectar com ele).

Uma coisa que gostei muito e talvez seja um detalhe bobo, mas ainda assim quero ressaltar: Graças a Deus eles pularam a parte do clichê de intenções mal interpretadas. Desculpe se há um nome verdadeiro para isso. Se você não sabe o que é isso, é aquela coisa velha muito usada (mais frequentemente em comédias românticas, mas também em outros gêneros) quando o protagonista mente para um amigo ou interesse romântico mas depois de uma briga e um tempo separados eles conversam de novo pra se resolver e está tudo bem.



Os problemas com papai / família

Muitos de nós temos um pai tóxico e uma mãe amorosa e perdida, (seja na infância, de forma trágica ou não), mas, infelizmente, ninguém que eu conheço tem pais mitológicos.

Shang-Chi ama seu pai (apesar de tudo), ele quer se reconciliar com sua irmã e unir a família novamente, mas seu pai está tão focado no que ele perdeu que não consegue ver o que ele está afastando estando apegado à sua dor e pesar. 

É claro que seus métodos para lidar com a viuvez não são defensáveis, mas se você teve uma grande perda, pelo menos você pode tentar sentir o desespero dele. 

Tony Chiu-Wai Leung é um ator tão bom (e quão carismático um homem pode ser?!) que eu acredito que mesmo crianças que nunca perderam nenhum brinquedo em suas vidas podem sentir a dor que o personagem sente e ainda assim não cair na armadilha ele tá certo em parte (novamente, desculpe se é uma coisa real e tem um nome). O jeito que ele está sempre almejando dinheiro e poder é o verdadeiro ele, a única coisa que o tornava melhor era sua esposa, mas se alguém só é bom por causa de outra pessoa ou coisa (como religião por exemplo), essa pessoa não é realmente boa. 


Embora ninguém lá esteja lidando bem com sua tristeza. Shang-Chi fugiu e mudou seu nome. 

Xiaoling criou seu próprio clube da luta. Alguém chame um terapeuta familiar imediatamente!


Ação de tirar o fôlego

As lutas! Meu Deus, as lutas! Não me envolvi tanto em cenas de ação em uma produção da Marvel desde a série Demolidor. É rápido mas não confunde, você pode ver claramente o que está acontecendo e se surpreender. Existem diferentes estilos de luta, mas todos são ótimos de ver e você gostaria que durassem mais. Normalmente a total falta de sangue nos filmes da Marvel me irrita muito, mas aqui, até faz sentido e as lutas em si são tão boas de assistir que nem me importei com esse detalhe.



Diferentes níveis, tons e profundidades 

Mas numa cadência perfeita. 

Do jeito que começa com Sean e Katy festejando muito e vivendo como adolescentes irresponsáveis (e aqui Awkwafina brilha tanto como as atrizes que interpreta sua mãe e avó, gostaria que houvesse mais cenas com Katy em casa com sua família) até a revelação de que Sean é Shang-Chi e tudo que envolve seu pai, até o cerne real que é seu caminho para o autoconhecimento e enfrentar a perda de sua mãe. Ele precisa salvar o mundo, mas para isso ele tem que derrotar Wenwu na batalha, fazê-lo perceber que mesmo com a partida de Jiang Li, uma parte dela estaria sempre viva em seus filhos e ele ainda poderia ter uma família que ama e se preocupa com ele. As mudanças suaves nos tons e níveis, a forma quase imperceptível como a produção vai ficando cada vez mais profunda é quase tão mágica quanto a mítica vila de Ta Lo. Não importa se você teve alguma experiência como Shang-Chi, Xialing, você consegue captar seus sentimentos, sua solidão, confusão, dor (uma dor profunda e excruciante em seus corações que vem de perder um pai para a morte e o outro para a tristeza, e no caso de Xialing ... bem, observe e me diga se ela sofre mais do que Shang-Chi ou é apenas minha própria dor que ressoa nela) e o alívio que vem de fazer a coisa certa e fazer as coisas como deveriam ser.



Excelência em atuação

Talvez ironicamente, o ator cuja atuação menos me agradou foi justo a de Simu Liu, que interpreta o personagem-título e protagonista do longa-metragem. Mas não, ele não é ruim (não tão ruim), mas em uma obra cinematográfica com tantos talentos superlativos suas cenas eram apenas razoáveis. Não me odeie (ou me odeie), mas a parte dele com a Katy de Awkawfina tem uma boa química porque ela é outra presa no mesmo nível e tem muito mais carisma do que talento real. Essa limitação fica ainda mais visível quando eles estão contracenando com nomes como Tony Chiu-Wai Leung, Michelle Yeoh e Meng'er Zhang (e esse foi só o primeiro papel dela no cinema, sendo sua experiência prévia somente do teatro). Até os figurantes estão com uma atuação digna de nota. Preciso ver mais daquela aeromoça atrapalhada e do cosplay de Lin-Manual Miranda que faz um dos amigos de Katy e Sean que lhes cobra maturidade no início do filme. 



Não há muito mais que dizer, (sem dar spoilers) além de que é um filme tocante, leve, com bons momentos de humor, muita aventura, ação, humor, cultura asiática, mas também tocando (ainda que com cuidado e de forma mais próxima do infantil - o que não é intrinsecamente ruim -) em temas como união familiar, luto, justiça e lealdade. 

                                                                                                                                  Nota: 8,8

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