Baghead, A Bruxa dos Mortos - Talvez escravizar a Maria Mulambo das Almas não seja a melhor das ideias

 


Direção: Alberto Corredor
Roteiristas: Christina Pamies, Bryce McGuire, Lorcan Reilly
Artistas: Freya Allan, Jeremy Irvine, Ruby Barker

Baghead é um filme de terror (puxado um pouco mais pra fantasia) baseado em um curta homônimo muito elogiado de 2017, que também conta com roteiro e direção de Lorcan Kelly e Alberto Corredor, (roteirista e diretor do curta, respectivamente). 

Com nota 5,4 no IMDB, a versão em longa-metragem parece sofrer do efeito "esticou a massa mas o  recheio não acompanhou" que algumas vezes acomete esse tipo de projeto.

Uma junção de sinopse batida, jumpscares atrás de jumpscares e problemas tentando parecerem complexos mas com resoluções previsíveis não agradaram aos fãs de terror que tinham uma expectativa alta em relação ao filme.

Porém...

Não foi exatamente o meu caso. Já explico:

Apesar de partir de uma premissa bem repetida ao longo dos anos, com protagonista sem perspectiva de futuro, passado nebuloso e que ganha uma herança e uma maldição/demônio de brinde e de sim, tanto na estética e fotografia mais sóbrias e frias, quanto em alguns elementos do roteiro, haver uma similaridade óbvia com Talk To Me/ Fale Comigo (terror australiano destaque do cinema em 2022, sucesso tanto de público quanto crítica), ainda percebi uma tentativa genuína de entregar uma estória boa e inventiva. Conseguiu? Não, mas o esforço é notório, e por isso daria chance a uma sequência, caso seja feita ou em futuros projetos dos idealizadores deste longa.

Sinopse manjada mas a princípio, bem trabalhada

Iris Lark (Freya Allan, a princesa Cirilla de The Witcher), aspirante a desenhista, cuja vida profissional é inexistente e acabou de ser despejada de onde morava, após a morte do pai, Owen (Peter Mullan) recebe de herança um estabelecimento com uma inquilina de bônus. A inquilina, no entanto, se trata de uma bruxa metamorfa que não só é capaz de incorporar os espíritos dos mortos, mas de os trazer de volta por alguns minutos, pelo próprio corpo. Tentada e explorar o talento da entidade em troca de dinheiro, Iris vai descendo cada vez mais a uma armadilha bem arquitetada que pode se tornar impossível de escapar. 

Percebe como ao mesmo tempo que é batida, também é uma premissa interessante? 

O plot "herança assombrada" existe aos montes, isso é óbvio. 

Porém, nesse caso, não existe demora alguma para "assombração" se revelar, e o fato de que não é só o espírito, mas a pessoa "ressuscitar" brevemente pelo poder da bruxa é sim algo de novo no cenário de terror. Fica realmente uma dúvida se o espectador poderia recusar tal oferta, tanto de usar o poder e falar, tocar, abraçar novamente um ente querido falecido, quanto de o explorar em prol de uma vida mais confortável e de ganho "fácil". 

Outra questão também se avizinha quase que instantaneamente é:

Quem é realmente o vilão? Quem é mais errado? A bruxa que manipula, envenena e tortura, ou quem a aprisiona por dinheiro e uma espécie de substituto mórbido e doentio de terapia?

Não tem nada de absurdamente genial na direção de Alberto Corredor, mas ele também não faz feio, ainda mais se tratando de seu primeiro longa. Uma cena em específico, quando Iris usa o poder da bruxa, foi muito bem feita e se destacou como um exemplo de que há potencial para uma melhora. 

O problema é que o roteiro, ao contrario de Talk To Me, não soube criar a atmosfera "daqui pra frente é só pra trás" e abraçar o caos iminente, sempre fazendo os personagens acabarem em clichês nada imaginativos, tanto na concepção quanto na execução das ações. O problema não é exatamente saber o que vai acontecer. 

É saber o como e até as falas que serão ditas, em quais momentos, e até adivinhar entonações. Bem frustrante, se percebemos o potencial que a estória tem.


Ignorância não é uma bênção

É um pouco difícil se lutar contra algo, principalmente sobrenatural, sem saber seu tamanho e alcance de seu poder. Assim como em Talk to Me, a protagonista, por pura falta de discernimento (no caso do filme australiano pela dor do luto, aqui por uma mistura de história de vida caótica com uma ganância estúpida bem característica dos mais jovens, sim, o estereótipo do jovem que perde os escrúpulos por desespero e falta de amor e conselho parental) vai perdendo o controle da situação e sua sanidade aos poucos, ate se encontrar em uma situação impossível de contornar. Apesar das reviravoltas, e de a protagonista ser mais impulsiva do que realmente portadora de intelecto deficitário (burra), se ela tivesse tomado algumas atitudes no início, assim que descobriu ser "guardiã" da bruxa, talvez tudo fosse diferente e o enredo se tornasse realmente intrigante e ao menos um pouco mais inovador.


Fotografia e direção básicas mas competentes e atuações inspiradas

A fotografia, como apontei anteriormente é bem fria, em tons de cinza e azulado e praticamente toma como missão passar toda a falta de esperança e confusão mental que afligem os personagens (tanto vivos quanto mortos), sem muita mudança em situações que talvez, pra dar uma nova perspectiva ou criar uma outra atmosfera condizente com as "reviravoltas" fosse aconselhável fazer. No entanto, como não é uma imposição nem fica desconfortável ou despropositada, não é algo que piore a experiência do espectador. Poderia ser mais bem feita, mais bem pensada e caprichada? Sim, mas se todo o resto te agradar, dificilmente a fotografia desabonará a vivência. 

O elenco é de esforçado a muito bom. Iris interpretada por outra atriz, provavelmente seria a mesma personagem. 

Freya faz o que pode, mas eu realmente gostaria de uma sequência que exigisse mais dela como atriz. Assim como em The Witcher, nas cenas em que tem que atuar um pouco melhor se sai bem, mas às vezes dá a impressão que está perto do seu limite.

 Ruby Barker me pareceu subestimada. Deveria ter mais espaço e seu papel, muito mais importância. Ela carrega cenas inteiras com louvor. 

Jeremy Irvine tenta...é bem sucedido em parte, mas em alguns momentos a tentativa é tão mais visível do que deveria, que chega a ser cansativa.


Se Baghead, A Bruxa dos Mortos tivesse sido um pouco mais ousado e original, seria com certeza um terror memorável e talvez até se tornasse um "clássico de pequeno porte" (aquela categoria de filme que tem um lugar especial no coração de uma grande parte das pessoas, mesmo não sendo um consenso de qualidade superlativa em público e crítica especializada, como The Craft/Jovens Bruxas, por exemplo) mas decidiu ir pelo caminho mais seguro e ficou previsível demais. Não se esperando muito, é possível se divertir por uma hora e trinta e cinco minutos. 


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