Ao contrário da maior parte de crítica e público, que já amou a série de cara, proclamando o primeiro episódio como perfeito, não vi nada demais e me decepcionei bastante com ele.
A mudança do LoKi-Trapaceiro-Arrogante-Egoísta (lembrando que a versão daqui é a de 2012), para o Loki-Vou-Tentar-Mudar-Mudei foi muito súbita, quase forçada.
Digo quase porque quando uma pessoa é confrontada com provas irrefutáveis (como o vídeo que ele assistiu) tanto de um comportamento mesquinho, egoísta (e assassino, no caso), quanto de que é capaz de mudar, a não ser que seja um total psicopata, ela se sente mal e pelo menos tenta fazer a mudança acontecer. Só que, tanto o vídeo me parece muito pouco pra tanto, quanto o tempo gasto pra que a mudança ocorra, muito curto.
No início, tudo parece encaixar perfeitamente. As cenas remetendo tanto ao primeiro Vingadores quanto a Ultimato, a revolta de LoKi ao ser preso, sua confusão com aquele local inusitado, sua profunda astúcia, e até a recusa em deixar o robô sequer tocar em sua roupa de fine asgardian lether/couro asgardiano. Tudo isso é muito "Loki do alvorecer do MCU". O que é maravilhoso. O problema é o que se segue.
Vi Loki pela trama
Owen Wilson na sua melhor forma fez um ótimo trabalho do começo ao fim, mas a sessão de terapia não me convenceu como deveria. Não foi um horror, e, fazendo um esforço é até crível. Só que eu não deveria ter que me esforçar e, sem dúvida, não deveria ser até crível.
Ele pode ter só, ao ver que as joias do infinito serem usadas como peso de papel, fingido mudar e na verdade só estar esperando uma oportunidade, como falou depois? Pode. Mas...não ficou claro se era assim, ou se, o que o fez mudar foi o vídeo (nesse caso, com certeza teria sido muito pela parte de Frigga) ou ter se apaixonado por Sylvie. - o que, uma parte da audiência achou ridículo, e eu às vezes concordo.
Por ser irregular (como depois a série inteira se revelou), e não esclarecer de fato coisas que deveriam estar claras, não consegui gostar muito desse episódio inicial.
Um detalhe importante: a referência ao caso D.B Cooper, que sequestrou um avião em 1971 e fugiu sem deixar vestígios foi uma bela piada...pra quem entendeu. Eu não sabia desse acontecimento e só fui entender depois que minha filha, Rose - muito melhor informada que a mãe trintona cringe - me explicou, quando leu a matéria do blog sobre o primeiro episódio (todos os posts sobre os episódios de Loki em separado estão aqui, só não fiz do quinto porque não deu, coisas da vida).
O gato não acrescentou em nada, mas achei fofo e tirei print porque sim
O segundo episódio já me pareceu mais convincente. Loki ainda possui sua arrogância e aquela incontestável infantilidade de querer provar estar certo e ser superior o tempo todo.
Loki com sua natural displicência ignorando e irritando Srta Minutos Antes de continuar, preciso dizer uma coisa que me incomoda imensamente nos filmes e séries da Marvel: (quase) ninguém sangra nessa desgraça! Tá todo mundo no MCM (Multiverso Cinematográfico da Marvel) com deficiência de hemoglobina? Não é como se eu precisasse ver um rio correndo toda vez que algum personagem é ferido, ainda mais deuses e alienígenas, por exemplo, que podem e devem ter um sistema orgânico diferente. Porém, não importa quão ferido seja um ser humano normal nas produções da Marvel, mesmo esfaqueado até a morte, ele raramente vai sangrar mais do que algumas gotas. Isso é ridículo e corta a suspensão da descrença.
Voltando à série: Ravonna é uma personagem que quero ver mais vezes. Ela é complexa, intrigante, torci por ela quando parecia do bem, coerente com o que é apresentado sobre ela.
Amei odiá-la quando mostrou crueldade. Claro, muito disso vem da talentosa, linda e carismática atriz britânica Gugu Mbatha-Raw que faz um ótimo trabalho.
A descoberta do Loki sobre o esconderijo da Sylvie estar nos apocalipses é feita, mostrada de forma engraçada mas não infantilizada. A forma que ele se empolga com isso é contagiante (como bem apontou Rose, minha filha).
Tudo nesse capítulo flui perfeitamente. Todos os acontecimentos e diálogos são gostosos e as transições homogêneas, coisas que não vi em boa parte do anterior.
A aparição de Sylvie é ao mesmo tempo uma surpresa (oh, é uma mulher), uma ameaça (pela luta com o Loki) e uma charada (o que ela quer, afinal?) que prende a gente segurando a respiração até acabarem os créditos.
Mas eu preciso, novamente, ser a chata e deixar claro mais uma má impressão: Não gostei de Sophia Di Martino. A atuação dela chega a ser vergonhosa às vezes. No momento em que sua personagem encontra os robôs Time Keepers fake, o modo que ela fala "I think you're scaaared" é...risível? Pavorosa? Meu Deus, não tenho nem adjetivo. Só faltou mostrar a língua pra completar o teatro de jardim de infância.
Muito pior, chegando ao lamentável, quando ela interage com a variante de Kang no sexto episódio. Não sei se pelo fato de Jonathan Majors estar espetacular no papel, mas é notável a diferença no nível de competência.
A liga dela com Tom é evidente, há sim uma boa química e por vezes ela se equipara à ele, porém, creio que isso seja mais mérito do carisma, flexibilidade e generosidade do ator do que talento dela. E, bem, Tom Hiddleston teria química com uma mesa de fórmica, até.
Me custa pensar que a série não tinha outra opção
Chegando no terceiro episódio e metade da série, chegamos também no episódio mais fraco dessa temporada. E eu pensei que o pior tinha ficado na estreia.
Se não ficou claro anteriormente, aqui não resta dúvidas que essa variante não tem nada a ver com o LoKi.
Sylvie tem habilidades diferentes e personalidade quase oposta à de LokiBoy. Diz a todo momento que não tem nada a ver com ele e demonstra isso na prática inúmeras vezes. Um exemplo é que, ela prefere os ataques diretos, ao invés dos sorrateiros disfarces do Deus da Trapaça.
Pudera, ela nunca teve sequer a chance de ter uma vida, já que vive fugindo da TVA desde criança, nunca podendo confiar em ninguém, menos ainda se tornar realmente a Deusa que deveria ser (ou não deveria?!).
A única coisa realmente boa nesse episódio foi Tom Hiddleston cantando em asgardiano. Quando penso que esse homem já não tem mais como me surpreender nem bambear mais as pernas, ele faz isso.
Toda a conversa que eles tem, as filosofias baratas, tudo isso poderia ter durado cinco minutos em outro capítulo, sem realmente alterar nada, porque até a desculpa do "aprofundamento dos personagens" foi esfarrapada, já que se aprofundou muito pouco em cada um.
No episódio quatro a coisa muda novamente de figura. Aqui eu já tinha chegado à conclusão que, na verdade não se tratava de um episódio bom e um ruim, mas talvez fosse um prólogo um pouco raso e arrastado seguido do real episódio, por assim dizer. O primeiro capítulo foi bem capenga, na minha opinião, se analisado solo; mas como uma introdução ao segundo, é até eficaz - embora não totalmente. O mesmo nessa sequência dos episódios três e quatro, que são, respectivamente, uma perda de tempo (isoladamente) e um bom investimento do meu tempo e atenção.
O envolvimento de LoKi e Sylvie fica evidente e terno, mas nada muito meloso, o que foi uma sábia decisão já que grande parte dos espectadores (principalmente fora do Brasil) não gosta do casal. Confesso que fiquei surpresa com isso. A desilusão que Mobius demonstra por ter sido traído por LoKi é ao mesmo tocante e um pouco engraçada, mas nunca chega a ser patética. Agora, uma coisa que amei foi a revolta da B-15, a atuação de Wunmi Mosaku, de quem sou fã desde "O que ficou pra trás" (leia crítica desse filme
aqui) foi tão contundente quanto discreta na cena da chuva.
Mais uma vez o ritmo do episódio é perfeito. A tensão crescente, a nítida preocupação de Loki com Sylvie, Mobius descobrindo ser uma variante, Ravonna deixando o lado sombrio aflorar, tudo muito bem, obrigada. A cena pós-crédito foi certamente a melhor de toda a história da Marvel.
Isso foi épico
O penúltimo episódio eu me preparei pra ter zero expectativas, e...deu certo!
Richard E. Grant fez uma belíssima participação como Loki Clássico. Kid LoKi, apesar de ter dito que matar o Thor foi seu evento Nexus, se revelou um bom garoto (o que me fez pensar se, na verdade, o Thor da realidade dele não mereceu ser morto).
Adorei que entre as inúmeras referências, conseguiram disfarçadamente enfiar o Pizza Planet, presente nos filmes da Pixar.
Quando Alioth apareceu eu pensei que não podia ficar melhor mas aí o LoKi Clássico faz aquela magnífica cena do Glorioso Propósito.
O aguardado e teorizado final nos é dado. E, sim, era ele o tempo todo: Kang, O Conquistador.
Embora, na verdade, no episódio não se trate de Kang exatamente, e sim, de uma variante cientista do século 31: Aquele Que Permanece, uma mistura de Imortus (a roupa dele é uma referência direta ao personagem) com o próprio Kang.
Aquele Que Permanece nas HQ's também existe, mas assim como A Cidadela No Fim Do Mundo, e inúmeras outras coisas no MCU/MCM, é bem diferente.
No início, fiquei até com pena do personagem, acreditando que ele era realmente bom. Mas agora eu acho que não. Acho que ele sabia que Sylvie iria matá-lo. E queria isso. Queria Kang tomando o controle. Reassistindo, parece mais que tudo o que ele falou foi mais pra deixar claro o que viria a seguir, e com frases-chave, que ele sabia que afetaria os dois, mais ainda a Sylvie, levar ao resultado que ele desejava.
Posso estar errada, e na verdade ele ser mesmo uma boa variante, somente cansada que realmente ofereceu o controle da TVA aos jovens mancebos? Posso.
Pode haver uma outra possibilidade na qual não pensei? Lógico.
Mas por enquanto é assim que penso. Ele sabia muito bem o peso e a dor dos traumas da vida da Sylvie. Ele sabia que ela não cogitaria deixar de lado a vingança, e incita isso nela.
A luta entre LoKi e Sylvie é penosa e dói assistir, porque, na verdade, ele só quer que ela reconsidere, e ela só quer que ele entenda que não lhe é possível.
Ela tem que fazer o ser responsável por ela nunca ter nem tido a chance de ter uma vida pagar por isso. Ela precisa! E eu entendo.
A discussão que corrói empatas e quem tem traumas na bagagem
A cena de Loki, chorando desolado na AVT, enquanto Sylvie segue o plano e mata Aquele Que Permanece (mais uma vez sem sangue), pra se arrepender no minuto seguinte, as realidades já estão mudando e se bifurcando e o bagulho tá ficando lou-co! Coitado do Doutor Estranho!
Strange vai aparecer no filme assim: Wanda e Loki de cabeça baixa, com as mãos unidas na frente do corpo, e ele com as mãos na cintura e batendo o pezinho, dizendo: "Bonito, né? Terapia que é bom, ninguém quer. Ma pra quê terapia se eu posso fazer a minha realidade, né dona Wanda?! Ou FERRAR COM A LINHA DO TEMPO, OU MELHOR, AS LINHAS DO TEMPO, NÉ, LOKI?!
Embora tenha sido doloroso ver que as coisas se alteraram tanto que Mobius nem lembra mais do amigo, esse final, com a óbvia referência a Planeta dos Macacos, foi incrível.
Muito embora a série não possa ser considerada por mim como perfeita, nem mesmo a melhor das três feitas pela Marvel para o Disney+ (não dá pra escolher a melhor por se tratarem de coisas muito diferentes), esse final valeu a pena acompanhar os seis episódios.
Porém o intuito deste post é chegar ao veredito sobre a série como um todo, e como um todo ela é um pouco irregular, com alguns pontos irrelevantes. Acredito que o terceiro episódio foi todo desnecessário. Técnica e artisticamente a série é quase irretocável (só acho que a fotografia exagera muito nas cores às vezes e a atuação de Di Martino é a única que não gostei), mas o roteiro, que seria facilmente aproveitado num filme de duas horas ao invés de uma série prolongada por semanas, e poderia ser melhor desenvolvido. No entanto, a meu ver, o final, compensou muita coisa, principalmente o anêmico episódio inicial.
Nota: 7.3
Gostou da crítica? Quer ajudar a manter (e crescer) o blog? Vai na HOME e clique nos botõezinhos pra curtir a página no facebook e seguir-me no twitter. Se desejar, também se tornar um padrinho/madrinha do blog, manda um pix de qualquer valor para carollsophies@gmail.com
Comentários
Postar um comentário