Espiral (o Legado de Jogos Mortais): Todo mundo odeia piloto automático.

 

Não assisti Jogos Mortais. Nem o primeiro. Porque? Não vejo função válida no gore. A aflição que me causaria não vale o suposto entretenimento que todo o resto do filme pudesse trazer. 

E, com o fim da franquia pensei que estivesse livre de ter que sequer saber da estória. Mas aí Chris Rock decidiu fazer um reboot/continuação porque sim. E ainda chamou Samuel L. Jackson. Então fui obrigada a ver dessa vez. Mas não assisti nenhum anterior, não consegui me obrigar a isso. 

Foi com pesar que vi as críticas por aí falando que Espiral: O Legado de Jogos Mortais não deu certo. Mas resolvi assistir a crítica do Lucas Maia (canal Refúgio Cult, no YouTube) porque, algumas vezes nossas opiniões coincidem. E, isso tinha acabado de ocorrer com Invocação do Mal 3, que foi massacrado por crítica e público e nós dois gostamos - não amamos, mas não vimos um crime contra o fã de terror ou de cinema. 

Lucas, com aquele jeitão despojado, puxado pro sarcasmo, me manda um "ele é bom, mas também é ruim".  E isso, por si só já me deu uma esperança. Ele apontou o que acho que é mais importante num filme: Entretenimento. Entreter, ele entretém. A frase final de Lucas foi a seguinte: "Vai lá, dá uma chance, o filme tem coisas boas. De repente você gosta." E eu pensei em dar essa chance. Afinal, Chris merece um voto de confiança.

Entendi que você é fã do Chris Rock, Carol. Mas, Espiral é interessante?

Calma, colega. Vou chegar lá. Só preciso expressar umas coisinhas antes.

Morrerei dizendo isso: Cinema é en-tre-te-ni-men-to. 

Tem que te levar pra uma viagem na qual você não sinta que passou um par de horas (pelo menos) sentado no mesmo lugar. Mas e a mensagem social? E a lição de vida? A edificação da alma e do intelecto? Quer mensagem social? Vai ajudar um orfanato, um asilo ou uma favela perto da sua casa. Quer lição de vida? Vai na APAE, ABBR, qualquer lugar que tenha pelo menos umas dez crianças portadoras de deficiência. Se não aprender nada em quinze minutos, não há filme que vá te passar lição alguma. Quer edificar a alma? Leia a Bíblia(ou o similar da sua crença. Se não tem crença, não tem o que edificar. Ponto). Quer edificar a mente? Leia Sócrates, Platão, Jung. 

É claro que um bom filme faz tudo isso acima e também entretém. Mas hoje parece que se não tem uma coisa a ser aprendida, então se torna inválido. Não, gente. Ora, se era comédia,  te fez rir? Então, cumpriu seu papel. Lógico que é um argumento simplista. Existem implicações, por exemplo, o tipo de comédia, e também como te fez rir, entre outras coisas. No entanto, estou querendo passar uma ideia aqui, com esse exemplo.: Nenhum filme te fará uma pessoa melhor. A não ser que você queira e se esforce pra isso. Muita gente me condena por eu não gostar de Cidade de Deus. Mas, pra mim é só mais um filme de favela feito para que todos os envolvidos e quem assiste se sinta uma pessoa mais evoluída. A maioria da plateia nunca passou nem perto de lá, nem de nenhum outro morro do Rio. Assistir ao filme e aplaudir já é "fazer a sua parte". Cinema brasileiro e a sua cota de "Criança Esperança" da sétima arte. Não tenho paciência, desculpa.


Tá bom, mas e Spiral? É bom?

Não. E sim.

Ele te prende, é agradável, tem uma boa premissa. O andamento da estória é satisfatório. O desenrolar se dá sem encheção de linguiça desnecessária. Efeitos práticos e estrutura técnica(fotografia, locação, cenografia, trilha sonora) de qualidade. Só que tem erros e um roteiro preguiçoso e acomodado que, caso a direção se empenhasse mais, poderia ser melhor desenvolvido e renderia sim um ótimo longa de suspense/mistério/investigação. 

Na área do gore também é, digamos, tranquilo. Pra quem gosta, acredito que tem o seu quinhão. E, pra quem não gosta (comme moi), fica óbvio quando tais cenas serão expostas e aí é só olhar pro lado, ou fechar os olhos. Ou, caso queira encarar o desafio (o que eu optei por fazer, já que temia perder algo que tivesse validade pro enredo - eu sei, fui tola), as cenas não são tão traumatizantes se você já viu conteúdos parecidos algumas vezes antes. Não são agradáveis, mas Evil Dead (entitulado Morte do Demônio, no Brasil) é muito, muito pior. - E eu tô falando do reboot. - Se aguentou esse ou algo do gênero, Espiral é fichinha. 

Porque o roteiro é fraco?

Aí que está. Não vejo o roteiro (Chris Rock, Josh Stolberg, Pete Goldfinger) exatamente como fraco. Acredito que ele é sim, acomodado e foi mal trabalhado pela direção de Darren Lynn Bousman. A sinopse é boa. O desenvolvimento é que foi mal executado. 

Punir policiais corruptos é uma ótima ideia. Como odiar o "novo Jigsaw" ?  Ele está matando assassinos que saem impunes por vestirem uma farda! Vem pro Rio, cara! 

Mas a forma como a coisa é conduzida, tanto as pistas quanto a motivação e a junção das peças ficaram muito óbvias e tudo com um ar pretensioso como se estivesse entregando uma obra-prima do cinema, um suspense/terror digno de Hitchcock juntando com um livro de detetive da Ágatha Christie. A revelação do criminoso nem chega a ser bem uma revelação, e de novo, é mostrado como se fosse uma reviravolta genial. E pra que tanta palavra com F? É vírgula? É pontuação? Só o personagem do Chris manda trezentos F em cada frase! Desnecessário. No mínimo.  

Todavia, ainda seria possível relevar todo esse ego e palavreado chulo se as atuações colaborassem.

Não. Não colaboram 

                                     

                                                          Olha isso. Como levar a sério?

Não só Chris Rock está tenebroso. Quem não está no mesmo nível (como a policial que faz a chefe dele, que apesar de linda, me fez pensar de que teatro amador ela foi tirada), está num piloto automático tão morno que é quase como se nem estivesse presente. Max Minghella e Samuel L. Jackson com suas performances deixam claro que só estão ali pelo cachê e/ou amizade com o ator que protagoniza o longa. 

Dos atores coadjuvantes quase dá pena. Não há nem esforço. 

Já de Chris há sim. Muito esforço. Esforço baldado. Realmente não quero ser cruel mas não tem como. Por duas vezes eu pausei o filme (nas duas cenas que tirei os prints que ilustram esse artigo) pra rir da situação e de desespero por ver essas expressões tão não naturais, tão...gente, não tem nem termo pra isso. 

Chris, o que aconteceu?! 

Uma parte de mim ficou sentida e decepcionada por realmente ter torcido para esse projeto do Rock dar certo e ele ser levado a sério como era seu intuito. Uma outra parte de mim riu horrores da vergonha alheia que o ator e roteirista estava passando. 

Finalizando, é uma estória com um bom começo, um ritmo acertado, que teve seu potencial jogado no ralo com uma execução mal feita e uma arrogância de se achar totalmente inovador, que é descabida. E com atuações terríveis. Não há como esquecer. 

                                                                                                       Nota: 4.8


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