O Método Kominsky: Uma série que acaba na terceira temporada, nos fazendo querer (pelo menos) mais três

 


Eu sei, eu sei. Estou atrasada pra falar de Loki. E eu vou falar de Loki. Mas primeiro, é quase uma obrigação recomendar e dizer porque recomendo essa pérola chamada O Método Kominsky. 

Criada por Chuck Lorre (Two and a Half Men e The Big Bang Theory), a série acompanha Sandy Kominsky(Michael Douglas), um ator idoso que, para preservar a dignidade que ainda lhe resta, decide se afastar dos holofotes (que nem foram tão luminosos assim), e cria um curso de atuação para ensinar jovens atores o seu método. E, vale dizer, essas cenas são realmente aulas de atuação. Como uma boa estrela hollywoodiana, Sandy não tem muitas nem grandes amizades. A não ser por Norman Newlander(Alan Arkin), seu agente da época da ribalta. 

Os dois são velhos, ranzinzas, fazem um humor ácido e um pouco politicamente incorreto em várias situações (mas não tanto a ponto de afastar os mais sensíveis - ou mimizentos mesmo - afinal, Lorre é esperto, e sabe que no fim das contas, a contestação tem o limite do lucro). Mas não pense que vai encontrar aqui uma comédia para gargalhar até faltar ar. Porque, exceto por uma cena ou outra, não vai, não. 

Afinal, parando para pensar, suas outras duas produções mais bem sucedidas apesar de terem uma comédia bem eficiente, tinham em seu cerne, personagens com tons bem dramáticos, para não dizer trágicos. 

O estilo de vida de Charlie Harper era um pedido de socorro e ele poderia muito bem ter problemas maternos tatuado na testa. Alan, seu irmão, é a imagem da insegurança e essa insegurança o fez se transformar numa pessoa e pai medíocres. 

Já Sheldon Cooper é além de insuportável, tremendamente solitário, e nem percebe isso. Graças ao colega de apartamento, Leonard, (outro com uma mãe problemática - Chuck, você já procurou terapia?) que, por sua vez tem uma paixão platônica pela vizinha e, que, se pensar bem, só ficou com ele por não ter dado certo como atriz nem ter opção melhor. Ele a venceu pelo cansaço. Chega a dar dó. 

Em tempo: sim, sei que Sheldon, principalmente após Amy tê-lo feito sair um pouco mais da concha, vai amadurecendo e que Penny se apaixona realmente por Leonard, mas, a base problemática está lá, e isso não é ruim. São personagens ricos, complexos e tridimensionais. 

Se, nas séries citadas, o humor era marcante e a primeira coisa a chamar a atenção. Aqui é capaz de passar despercebido. Não, não é que ele não exista. Existe e em profusão. Mas é um humor mais refinado, e às vezes mais seco. Algumas vezes, principalmente nas falas do fabuloso Alan Arkin, um sujeito que tem o dom de fazer o velho intragável-amável, pode passar batido por uma parte do público, e não entenderem que ali tinha uma tirada engraçada. 

O luto está presente em todas as temporadas, desde a estreia em 2018. O que é natural, já que a série aborda (com muito tato) certos ângulos da vida idosa, que preferimos ignorar, e uma delas é a iminência da morte. A melancolia, a reflexão de como Sandy viveu sua vida e como passar o tempo que ainda tem, e que, teme que se acabe a qualquer momento. Mas não é uma série triste. Não fique pensando você que vai entrar em depressão ao assistir a dupla impecável, pois, apesar de tudo, tanto Norman quanto Sandy tem muita estrada pra seguir, e, mesmo com turbulências, eles conseguem contornar seus problemas e perdas e vão em frente. Na verdade, é um baita estímulo para quem está pensando em desistir. 

A família também é um elemento bem presente na série, e, como tudo, as relações familiares são bem desenvolvidas e realistas. As filhas de cada um dos personagens são tão distintas quanto seus pais são parecidos. Mindy, filha de Sandy (a irrepreensível Sarah Baker) centrada e responsável, teve que amadurecer cedo, porque de imaturidade, a de Sandy bastava pelos dois. Não que isso seja dito. Ao passo que Phoebe (Lisa Eldestein, mais conhecida por seu trabalho em House M.D, aqui está sensacional), filha de Norman, tem um passado conturbado de uso de bebidas e entorpecentes, causando uma dor de cabeça atrás da outra (e algumas cenas hilárias, e outras mais puxadas para o drama).

A participação de Paul Reiser a partir da segunda temporada é uma adição bem vinda e ele, afina o tom direitinho com todos do elenco. Não sei quem foi o responsável por convidá-lo, mas foi uma ótima ideia.

Na terceira e última temporada, infelizmente, não é mais uma dupla implacável que brilha. Alan resolveu se retirar antes até da pandemia se instaurar. Mas a presença de Kathleen Turner, que está um arraso de interpretação, faz com que sua ausência seja menos penosa de sentir. O roteiro da despedida foi feito com maior cuidado do que os das outras temporadas. E, se o habitual já era maravilhoso, neste fechamento, foi arrebatador. Com uma mensagem otimista, de amor, reconciliação, vitória e sonhos que valem a pena serem perseguidos,O Método Kominsky é uma delícia para os olhos, a mente, a alma e o coração. 

                                                                                                            Nota 9.3


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