Luca não é épico, mas é doce, emocionante e tem a alma e capricho característicos das duas maiores empresas de animação do mundo.

 


Luca é um bom menino. Obediente, bom filho e neto, sempre ajuda aos pais e avó em casa, sendo o pastor em sua fazenda...de peixes. Sim, peixes. 

Luca é um "monstro marinho", ou melhor, uma criatura marinha. O correto Luca não tem nada de monstro, assim como todos os outros seres aquáticos que os habitantes da Riviera Italiana tanto temem. 

Apesar de, ao saírem do mar, as características se tornarem totalmente humanas, fazendo com que eles possam se passar por pessoas normais, ao mínimo contato com a água, o disfarce se desfaz. E, assim, eles correm perigo de serem descobertos então sempre se mantém afastados.

O guri é sempre alertado pela mãe zelosa, naquela imagem típica da mãezona italiana, que deve ficar longe da superfície e dos monstros humanos. (E como diria o meme: errada não tá).
Mas Luca, como todo garoto que está crescendo, é curioso, quer saber e conhecer mais do mundo, e ele tem uma doçura própria. 
Ao perceber, num dia de pastoreio, que "coisas humanas" estão jogadas por ali, apesar de receoso, o menino também fica intrigado. 

Nesse interim, ele conhece Alberto. 

Alberto, que está colecionando as tralhas que os humanos às vezes deixam pra trás, é, também uma criatura marinha, também um garoto e possui a idade aproximada de Luca. 

Mas as semelhanças param por aí.

Alberto é arrojado, destemido e não tem ninguém que mande nele. Vive por conta própria, já que o pai lhe deixa fazer o que dá na telha, e fica ele muito bem numa torre na praia.

Luca, no início, é só medo e confusão quando decide ir atrás do novo amigo. Mas aos poucos, com os empurrões nada gentis de Alberto, vai se soltando, se arriscando e se despreocupando mais. Tanto que acaba perdendo a hora de voltar pra casa e aí suas escapadelas são descoberta pelo pais. 

Claro que eles entram em desespero, e, pra evitar que as explorações continuem, o mandam ir ficar com o Tio Ugo. Uma figura no mínimo, estranha, que é um peixe das profundezas escuras e solitárias do oceano e que se alimenta somente de carcaças de baleia. 

Óbvio que a ideia de ir pra um lugar desses com um ser daqueles não agrada em nada o garoto, que foge, e pede ajuda ao amigo. Eles então decidem ir para a vila, a cidade, conseguir uma vespa e então sair mundo afora.

Lá eles conhecem a encantadora Giulia, que, assim como eles, não tem muito lugar ali, e, ironicamente, se sente um peixe fora d'água. 

Os três fazem amizade rapidamente (Luca mais do que Alberto), e decidem se unir para alcançar um objetivo comum. 

Todo o desenrolar do que as relações entre eles irá gerar e como tudo o que passarão lhes fará encontrar seus caminhos é cheio de fofura, meiguice e encanto. Mas não há arrebatamento nas uma hora e trinta e cinco minutos do primeiro longa-metragem de Enrico Casarosa. Que é competente na direção e soube se desvencilhar bem de comparações com A Pequena Sereia(1989). Em que pese uma semelhança ou outra, o longa da Pixar tem sim sua identidade. 

Lógico que há muitos temas envolvidos, entre eles a aceitação do indivíduo diferente. A auto aceitação desse indivíduo também. Diferença essa que pode ser de qualquer esfera: de deficiência física à crenças religiosas. Mas a abordagem é bem calma, alguns diriam superficial. Eu creio que foi segura, cautelosa. Preferiram manter num nível que as mensagens ficassem acessíveis mas não evidenciadas em demasia. Pelo lado positivo, ao adotar um tom mais subjetivo, dá ao espectador um poder de identificação ou de entender o que ele, em específico quiser entender sobre o longa. (pelo negativo, há quem diga que ficou vago. Eu não vi dessa maneira, mas compreendo quem assim entendeu).  

As crianças com certeza irão gostar. Adultos acostumados à Disney/Pixar apoteótica, fascinante e marcante, podem ficar desapontados. Mas se souber dosar a expectativa e só aproveitar a beleza da animação (sobretudo no que tange as cenas na natureza. O filme é praticamente uma ode à elementos naturais, como oceano, árvores, chuva e até estrelas), e a sua estória pura e tocante, (que poderia sim, ser mais profunda, mais artística, mas optou pela segurança), acredito que irá sair da sessão (ou levantar do sofá) satisfeito.    


                                                                                                          Nota:8.5

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