Estômago: Brazuca de Qualidade a gente vê por aqui!

 


Não sou aquela fã de cinema nacional que consome, ama e faz propaganda de tudo que o audiovisual brasileiro possui. Mas quando vejo uma coisa boa, qualquer que seja a nacionalidade, preciso dizer que vale a pena assistir. Estômago é desses. 

A primeira fala do longa é praticamente uma declaração de amor do protagonista ao queijo gorgonzola. E ele discorre sobre as qualidades do alimento com o colega e "dono" da cela em que está preso, Bujiú (Babu Santana, competente, as usual). O qual não quer o queijo na cela de jeito nenhum por seu odor característico. Mas como ele, um amante de queijos refinados, foi parar lá? E porque?

O paralelo de sua vida antes e dentro do presídio vai sendo tecido de forma quase sublime, e o quadro que vai se desenhando é, ao mesmo tempo, suave e surpreendente. 
Suave na medida que demonstra com falas e situações simples e diretas, como Raimundo é humilde e ingênuo. Ingenuidade essa que ele vai sendo forçado a perder pouco a pouco caso queira prosperar nos meios onde é situado.

Raimundo Nonato (o fenomenal João Miguel) vai do Ceará para o Paraná, mais precisamente Curitiba, sem dinheiro nem lugar pra ficar. Com fome, entra num bar e pede as duas coxinhas rançosas restantes. Após comer, cansado, cai no sono no balcão. Acordado com estrondo pelo dono do estabelecimento, Sr. Zulmiro (Zeca Cenovicz, que atua muito bem) e sem dinheiro pra pagar o que consumiu, entra num acordo com o proprietário, de ajudar na cozinha em troca de teto e alimentação. E um talento nato para cozinhar é descoberto. E explorado. 

A única vez que o empregado tenta pedir o que é devido ao patrão (salário, benefícios, ou seja, somente seus direitos) é humilhado, e nunca mais toca no assunto. 

Um mês que Nonato está no "emprego" e eis que entra no bar a prostituta Iria (Fabíula Nascimento, fantástica). Mulher que além de saber usar a sensualidade como poucas, é uma profunda amante de gastronomia. Aquela criatura ama comer. Come com um gosto que vê-la se saciar é capaz de dar fome até em anoréxicos. 

Aliás, se possível, assista ao filme com algo para comer sempre por perto. Não adianta ver logo depois de comer. Sentirá fome assim mesmo. Vai por mim.

Com o passar do tempo, o relacionamento entre Iria e Raimundo vai se tornando cada vez mais intenso. E também, graças à sua mão santa, o pé-sujo começa a encher de frequentadores. 
Entre esses frequentadores aparece um homem de origem italiana, Sr. Giovanni (Carlos Briani, mais conhecido como Seu Bauducco, aqui está ótimo), que é dono de um bom restaurante italiano e o convida a trabalhar pra ele, e o ensina mais sobre o ofício. As cenas das aulas são um bom alívio cômico, dada a origem simples de Nonato. As expressões de Briani estão impagáveis. 

Mas não se preocupe com talvez virar uma comédia aos moldes de Leandro Hassum. Não. O longa é sim num tom leve, mas comedido. A comédia, assim como o drama, o suspense e o(s) plot twist(s) do final, absolutamente tudo, é feito com parcimônia. Como se faria numa receita. 

A direção e argumento sábios de Marcos Jorge soube contar o roteiro que ele mesmo ajudou a escrever com Cláudia da Natividade, Lusa Silvestre, Fabrizio Donvito.de forma concisa e simples mas com assertividade e sabendo conduzir o espectador. Feito em 2007, não à toa, em 2015 entrou para a lista da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos - na septuagésima quarta posição.

  

                                                                                                                          Nota: 8.5

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