#Revendo: Z-o-m-b-i-e-s. Falando de racismo sem falar de racismo, mas obviamente falando de racismo.

 




Em 2011, "Zumbis e Líderes de Torcida"(Zombies & Cheerleaders) foi produzido por Eric Weinberg ("Scrubs", "Death Valley") e escrito por Joseph Raso e David Light, que também eram coprodutores executivos. Todd Strauss Schulson ("A Very Harold & Kumar 3D Christmas") dirigiu o piloto. A ideia era criar uma série, com estreia pra 2012, mas não passou disso. Aparentemente os executivos  não gostaram do resultado. Então, porque em 2017 a ideia foi desengavetada, e transformada num filme pra televisão e dessa vez não só foi ao ar,(em 16 de fevereiro de 2018) como virou um sucesso e ganhou uma sequência?

Resposta em uma palavra: Execução. Quantas vezes você leu a sinopse de um livro que tinha uma estória clichê mas a forma como quem escreveu mudou tudo na sua experiência com aquela obra em específico? A forma como se conta um fato, muitas vezes é mais importante que o fato em si. 

Na verdade, acredito que esse seja o cerne de Z-o-m-b-i-e-s. A forma como as pessoas se veem, e aos outros é o que acaba decidindo o que vai ser de uma cidade, uma sociedade, e, consequentemente, o mundo. 

Após um acidente na fábrica de refrigerante, parte da população de Seabrook, a perfeita imagem do subúrbio americano idealizado, vira zumbi, o que causa, lógico, um pânico generalizado. Mas após 50 anos, graças a um relógio que reprime sua fúria e por terem sido segregados numa parte isolada da cidade, os zumbis não são mais uma ameaça e tudo parece perfeito assim como está. Mas quando um grupo de adolescentes de Zombietown é transferido para estudar numa escola regular de Seabrook, e, Zed, um zumbi, decide entrar pro time de futebol da escola com a ajuda da humana Addison, que quer ser líder de torcida, toda a comunidade é forçada a ver que, as aparências enganam, e a "perfeição" do lugar nada mais é do que hipocrisia, mediocridade e conformismo. 

O acidente não é muito bem explicado no primeiro filme, menos ainda se explora os anos posteriores ao ocorrido. O foco aqui é como os habitantes vivem fingindo que uma parcela da população não existe. O pensamento coletivo normal pode ser definido numa frase: Os zumbis foram "enjaulados" em Zombietown, usam o relógio e não tem condições de representar um perigo real, seja por sua agressividade, seja por ascensão social, logo, não existem. 

Parece já ter visto algo semelhante a isso em algum lugar? Começando pela escola...nos livros de História, talvez? 

A entrada do colégio é dividida, uma para humanos e  uma para os zumbis, que são tratados com hostilidade e violência. Estudam numa parte separada dos humanos, sem a menor infraestrutura. Ou seja, a inclusão é pura fachada. Não é nem como se fossem cidadãos de segunda classe. Não são cidadãos, simples assim. 

É clara a menção ao tema do preconceito racial aqui. Em algumas cenas chega a ser incômodo como essa ficção infantil e absurda fica parecida com a realidade. A reação dos humanos aos zumbis, que vão da indiferença ao ódio completo, infundado e indisfarçável tornando quase impossível uma convivência pacífica real entre as duas "espécies"(?) é um exemplo perfeito de como o ser humano lida erroneamente com o que considera estranho, fora do padrão e, portanto, errado e indigno de tratamento igualitário. Porém, aos poucos, com muitos hits pop, clichês adoráveis e um par de protagonistas (e quase todos os coadjuvantes) muito carismático, o filme vai mostrando que, a diferença não é um problema, e, se houver esforço de ambas as partes, todos saem ganhando.   

 O ponto forte mesmo, ao meu ver, além da forma como a estória é contada, é a atriz Meg Donnelly, que faz a Addison, humana normal que se apaixona pelo zumbi Zed e luta ao seu lado pela união dos povos. Meg, além de linda, e um doce de carisma, é talentosa de um jeito que pode parecer comum. Algumas pessoas podem ver suas cenas e pensar: "ok, a menina sabe atuar e cantar, mas não inventou a roda, Carolina." Não, ela não chega a ser um assombro, até porque o enredo não pede isso, porém a menina entrega convincentemente e sem canastrices, tanto a comédia quanto as nuances de drama e tensão.

Lógico que existem alguns errinhos e defeitos, entretanto, eu esperava uma bomba, algo pra rir de vergonha alheia, e tanto no primeiro quanto na sequência, me surpreendi muito positivamente.

Com uma comédia eficiente, músicas bem no estilo pop farofa, e, passando o recado necessário à sociedade. Um recado que parece estarmos sempre precisando que alguém relembre, arrisco dizer que, talvez Z-o-m-b-i-e-s seja um clássico (ainda que somente um clássico-Disney-Channel) daqui a alguns anos.

                                                                                                                                                      Nota:  7.0      

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